ANDRÉ GUEDES
13.05.2006
"Olímpo"
“Antes de se ter convencionado na cultura helénica como o local onde viviam os deuses, o Olimpo situava-se originalmente no cume de uma montanha, a de maior altitude em toda a Grécia. É na Ilíada de Homero onde esse conceito geográfico se desagrega para dar lugar à noção de um outro Olimpo, localizado, algures, a um nível muito superior ao de todas as outras montanhas da Terra, situado entre as nuvens, em algum lugar do céu, misterioso e inacessível. E assim a noção de ‘Olimpo’ tornou-se uma abstracção, uma topografia incerta.
A mitologia grega, onde se inseria o Olimpo, fazia parte de um sistema religioso, mais ou menos coerente de explicação do mundo, fornecendo a uma sociedade, o registo e a importância de determinados valores. Através de um mundo humanizado pela presença dos deuses, uma civilização ficava assim liberta e descansada face ao desconhecido e ao absurdo aterrador que ameaçavam a Terra e os seus habitantes. Neste domínio divino e místico, o Olimpo, constituía portanto a morada e o paradigma espacial e geográfico das aspirações de uma sociedade, expressão máxima de um ideal, como forma de resistência ao medo e ao sobrenatural.
O projecto “Olimpo” baseia-se no facto do espaço de exposição ‘Mad Woman in the Attic’ ter lugar num sotão. Um sotão é um espaço, que de forma semelhante ao Olimpo, também se situa numa extremidade topográfica - de um edificio, da cidade, do mundo -, sobranceiro à vida que decorre em baixo. São ambos lugares recolhidos onde o tempo e a actividade, e respectivas velocidades, decorrem de uma forma outra e específica. Mas um sotão é diferente da excelência do Olimpo, onde os deuses passavam o tempo eternamente em festa, em maravilhosos palácios. É frequentemente usado como a arrecadação de uma casa: um lugar não idealizado, espacialmente concretizável e humanamente acessível. É um lugar onde encontramos resíduos, de tempo e de matéria, aquilo que conhecemos ou reconhecemos e do qual fizemos ou ainda fazemos parte. Hoje, num sotão, como em vários outros lugares nos extremos do mundo, é depositado o mais banal ou o dispensável e também aquilo que decidimos subtrair ao nosso confronto.”
André Guedes, Maio de 2006
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+info:
Aida Castro escreveu " Olimpo in the attic?" no www.artecapital.net